O Fascínio da TV: Realidade e Fantasia em “I Saw the TV Glow”
O filme “I Saw the TV Glow” explora o profundo impacto da televisão na vida das suas personagens, particularmente em Owen, cujo acesso à TV é controlado pelos seus pais rigorosos. A televisão torna-se um meio de escape da realidade monótona para Owen e a sua amiga Maddy, oferecendo-lhes consolo no mundo fantástico de “The Pink Opaque”, um programa que seguem avidamente. O filme destaca o isolamento causado pela televisão, mesmo quando Owen trabalha num cinema, a plateia está ausente, substituída por indivíduos a assistir TV em casa. Isto enfatiza o poder da televisão em criar um refúgio privado de escapismo, afastando os indivíduos de experiências partilhadas e potencialmente exacerbando sentimentos de solidão.
A linguagem visual do filme sublinha o papel evolutivo da televisão na vida de Owen. As cenas iniciais espelham as cores vibrantes de “The Pink Opaque”, simbolizando a proximidade de Owen à fantasia e as possibilidades ilimitadas da juventude. À medida que envelhece e se distancia do programa, o filme adota uma paleta mais escura, dominada por luz fluorescente intensa, refletindo a sua crescente desilusão e isolamento. Esta mudança no tom visual acompanha a jornada de Owen, da imersão juvenil na fantasia televisiva a um confronto mais sombrio com a realidade. A narrativa, pontuada por quebras da quarta parede por parte de Owen, enfatiza ainda mais esta transição, permitindo ao ator Justice Smith transmitir uma crescente sensação de vazio e distanciamento, apesar das afirmações posteriores de felicidade.
“I Saw the TV Glow” explora subtilmente temas de identidade de género e os desafios da autodescoberta. A realizadora Jane Schoenbrun descreve o filme como a representação do momento de “quebra do ovo”, uma fase crucial na jornada de uma pessoa transgénero ao descobrir a sua verdadeira identidade de género. A narrativa ambígua e a imagética abstrata do filme convidam os espetadores a interpretarem a sua mensagem pessoalmente, ressoando com aqueles que experienciaram lutas semelhantes com a autodescoberta e a busca por pertença. Esta ligação metafórica entre o poder transformador da televisão e a transformação pessoal do protagonista torna o filme numa exploração única da identidade.
Embora não seja explicitamente um filme de terror ou mistério, “I Saw the TV Glow” evoca uma sensação de inquietação e introspeção enquanto Owen lida com a sua identidade e desilusão. A natureza em aberto do filme permite múltiplas interpretações, convidando os espetadores a envolverem-se com os seus temas a nível pessoal. O impacto duradouro do filme reside na sua capacidade de gerar conversa e reflexão, deixando o público a ponderar as complexidades da identidade, o fascínio do escapismo e a profunda influência da televisão nas nossas perceções da realidade. Isto torna o filme numa obra de arte valiosa para aqueles interessados no impacto da televisão na sociedade e na psicologia individual.
