A Série “Under the Dome”: Uma Visão Diferente da Obra de Stephen King
Stephen King, numa carta aos seus leitores, abordou as diferenças entre a série de televisão “Under the Dome” e o livro que a inspirou. Comparou a situação com James M. Cain, autor de clássicos como “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, que garantiu a um aluno preocupado que os seus livros permaneciam intocados apesar das adaptações de Hollywood. King ecoou este sentimento, enfatizando que o romance original “Under the Dome” permanece inalterado para os leitores apreciarem.
King reconheceu as diferenças significativas entre o livro e a série, mas defendeu a qualidade do programa. Destacou que muitas personagens, pontos importantes da trama como o motim no supermercado e o armazenamento de propano, e a exploração temática da escassez de recursos, transitaram para o ecrã, embora com modificações. Aprovou as mudanças implementadas por Brian K. Vaughan e a equipa de argumentistas, reconhecendo a necessidade de adaptar a história para a televisão.
Uma diferença fundamental surgiu da linha temporal alargada da série. Enquanto a cúpula encerra Chester’s Mill por pouco mais de uma semana no livro, a série estendeu este período para meses, exigindo ajustes substanciais à narrativa. Além disso, os argumentistas reimaginaram a própria origem da Cúpula, uma alteração crucial que o próprio King considerou necessária.
King explicou que manter a explicação do livro para a Cúpula estragaria o mistério para os espectadores, especialmente porque muitos leitores não ficaram satisfeitos com a sua solução original. Esta mudança na origem da Cúpula exigiu modificações adicionais nos arcos das personagens e nas histórias. Personagens que morreram no livro, como Angie, tiveram vidas prolongadas na série, enquanto outras enfrentaram destinos potencialmente diferentes.
Ele enfatizou a sua abordagem à escrita como situacional, permitindo que a história e as personagens ditem a direção da trama. Embora normalmente comece com um ponto final em mente, ele frequentemente descobre que a narrativa evolui organicamente, levando a resultados inesperados. Citou exemplos das suas próprias obras, como “’Salem’s Lot” e “A Canção de Susannah”, onde os destinos das personagens diferiram dos seus planos iniciais. Este processo orgânico, acreditava ele, era crucial para manter a autenticidade e permitir que a situação guiasse a história.
O único elemento não negociável para o livro e a série foi a própria Cúpula, a imponente presença física que definiu o conflito central da história. King descreveu o livro e a série como gémeos fraternos, partilhando uma origem comum, mas desenvolvendo identidades distintas. Incentivou os espectadores a abraçarem a série como uma realidade alternativa, uma exploração paralela do mesmo conceito central. Ele gostou de testemunhar esta realidade alternativa a desenrolar-se, reafirmando o fascínio duradouro pela premissa da Cúpula. King concluiu garantindo aos seus leitores que o romance original permanecia intocado, convidando-os a revisitar a história na sua forma original sempre que desejassem. Ele enfatizou a coexistência de ambas as versões, cada uma oferecendo uma experiência única e convincente do mesmo cenário cativante.